Introduçao à logica
Publié le 01/12/2024
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Introdução à Lógica
Introdução à Lógica
André Nascimento Pontes
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
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Notas de aula.
Todos os direitos reservados ao autor.
Não reproduza sem
autorização.
Atenção! O presente texto consiste em notas de aula ainda em construção.
Portanto,
ele pode conter algumas imprecisões gráficas e de conteúdo.
Costumeiramente, a lógica enquanto disciplina é descrita como o estudo das leis de
preservação de verdade, ou ainda, o estudo dos argumentos válidos.
Em seu famoso artigo
Der Gedanke [O Pensamento], Frege apresentou a lógica em contraposição a outras formas
de conhecimento nos seguintes termos:
Assim como a palavra “belo” assinala o objeto da estética e “bem”
assinala o objeto ética, assim também a palavra “verdadeiro” assinala o
objeto da lógica.
De fato, todas as ciências têm a verdade como meta,
mas a lógica ocupa-se dela de forma bem diferente.
[...] Descobrir
verdades é a tarefa de todas as ciências: cabe à lógica, porém, discernir as
leis do ser verdadeiro.
(Frege, 1918-19: p.
9)
Mas em que precisamente consistem as leis de preservação de verdade? O que torna
válido um argumento? Nas próximas páginas tentarei apresentar um a um cada um dos
conceitos básicos de modo a construir um quadro geral a partir do qual possamos, ao final,
responder a essas duas perguntas.
Comecemos pela noção de argumento!
Argumentos
Embora a noção de argumento seja corrente no nosso discurso cotidiano, na medida
em que apresentamos a lógica como o estudo de argumentos válidos, cabe aqui definir
tecnicamente essa noção.
Um argumento é uma sequência finita de sentenças de uma dada
linguagem, por exemplo,
1 , 2 , 3 , ..., 𝑛 ,
onde as n primeiras sentenças são chamadas de premissas do argumento e a sentença a
conclusão.
Outros modos gráficos de representar a estrutura de argumentos podem ser
encontrados.
Alguns exemplos são
1
PONTES, A.
N.
(*)
(**)
1
⋮
𝑛
______
1 , ..., 𝑛
_________
Em língua portuguesa é comum o uso de expressões tais como “logo”, “portanto”,
“por conseguinte”, “consequentemente”, dentre outras, para marcar a relação existente
entre premissas e conclusão de um argumento.
Em linguagens formais o símbolo “∴”
cumpre essa mesma função.
Tomemos alguns exemplos!
(A1)
Todo manauara é amazonense.
Todo amazonense é brasileiro.
Todo manauara é brasileiro.
(A2)
Todo filósofo é sábio.
Platão é filósofo.
Platão é sábio.
(A3)
Todo congressista ou é um deputado ou um senador.
Eduardo é um congressista, mas não é um deputado.
Eduardo é um senador.
Nos argumentos (A1)-(A3) acima, as duas primeiras sentenças de cada argumento
são as premissas, ao passo que a terceira, a conclusão.
Podemos dizer ainda que as
premissas de cada argumento implicam a conclusão, ou ainda, que a conclusão é uma
consequência lógica das premissas.
Isso é o caso, pois é impossível imaginar um contexto
onde ambas as premissas de cada argumento sejam verdadeiras, mas a conclusão seja falsa.
Dizer que a conclusão é uma consequência lógica é dizer que a conclusão se segue das
premissas, ou seja, ela é verdadeira sempre que as premissas também o forem.
Mas
vejamos o próximo argumento.
(A4)
Toda baleia é mamífera.
Willy não é uma baleia.
Willy não é mamífero.
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Introdução à Lógica
No argumento (A4) novamente temos duas premissas e uma conclusão.
Mas,
diferentemente do que ocorre em (A1)-(A3), há aqui um estranhamento, uma vez que, se
analisarmos com cuidado, perceberemos que a conclusão não se segue das premissas, ou
seja, ela não é consequência lógica das premissas.
Por quê?! Porque há contextos possíveis
onde as premissas podem ser ambas verdadeiras e a conclusão falsa.
Basta que Willy seja,
por exemplo, uma orca.
Há algo de errado com o argumento (A4)! Diferente de (A1)-(A3)
onde a verdade das premissas é preservada na conclusão, (A4) não preserva a verdade.
Esse é o princípio básico que diferencia um bom de um mau argumento.
É isso que temos
em mente quando falamos que a lógica é o estudo das leis de preservação de verdade.
E a
chave para compreender a razão pela qual os argumentos (A1)-(A3) preservam verdade,
enquanto (A4) não, está na ideia de forma lógica de um argumento.
A conclusão de um
argumento é uma consequência lógica das premissas quando a forma lógica do argumento
em questão garante a preservação da verdade.
Por isso dizemos que a lógica é formal.
Ela é
um estudo das formas de argumentos de argumento que preservam a verdade, ou ainda, das
formas válidas de argumentos.
A forma lógica de um argumento é obtida quando retiramos todo o seu conteúdo e
mantemos apenas sua estrutura lógica.
Essa estrutura é determinada pelos termos lógicos
do argumento, a saber, expressões tais como “todo”, “algum”, “nenhum”, “ou”, “não”, etc.
Uma vez que ao estudar formas de argumento, o lógico ignora seu conteúdo, é comum
falar da lógica como sendo topic neutral, ou seja, neutra quanto ao conteúdo.
Vejamos a forma lógica dos argumentos acima:
(F1)
Todo M é A.
Todo A é B.
Todo M é B.
(F2)
Todo F é S.
p é F.
p é S.
(F3)
Todo C é (D ou S).
e é C e e não é D.
e é S.
(F4)
Todo B é M.
w não é B.
w não é M.
Se formos precisos em nossa terminologia, não poderíamos dizer que (F1)-(F4) são
argumentos, mas apenas formas de argumento ou argumentos-esquema.
Isso porque
dependendo de como interpretarmos – dermos significado – aos termos não lógicos A, B,
3
PONTES, A.
N.
C, D, etc., podemos construir diferentes argumentos com a mesma forma lógica, conforme
veremos a seguir.
Validade, correção e verdade
Embora haja múltiplas maneiras de se definir as noções básicas da lógica, assumirei
aqui determinas definições tomando-as, pelo menos inicialmente, como não problemáticas.
Um argumento válido é aquele cuja conclusão é uma consequência lógica das premissas
em virtude da mera forma lógica que o argumento possui.
Nesse sentido, a validade é
determinada por razões puramente sintáticas.
Por exemplo, dado o argumento:
(A1)
Todo manauara é amazonense.
Todo amazonense é brasileiro.
Todo manauara é brasileiro.
Como vimos acima, ele possui a seguinte forma lógica:
(F1)
Todo M é A
Todo A é B
Todo M é B
(A1) é válido, pois sua forma lógica – dada por (F1) – garante que toda vez que os
termos não lógicos A, B e M forem interpretados de modo a tornar as premissas
verdadeiras, tornarão verdadeira também a conclusão.
É precisamente isso que está em
jogo quando dizemos que validade é preservação de verdade: a verdade das premissas é
preservada na conclusão.
Por outro lado, um argumento correto é aquele que, além de válido, também tenha
premissas e conclusões verdadeiras.
Uma vez que a correção de um argumento depende da
verdade de suas premissas e conclusões, dizemos que correção é uma noção semântica.
É
importante notar que uma vez que um argumento é dito válido ou inválido em virtude de
sua pura forma lógica, podemos ter diferentes instância de argumentos válidos de mesma
forma lógica, sendo algumas delas corretas outras incorretas.
Por exemplo, o argumento
(A1)* a seguir possui a mesma forma lógica que (A1), mas suas premissas e conclusão são
falsas.
Portando, (A1)* é um argumento válido, mas incorreto.
(A1)*
Todo brasileiro é amazonense.
Todo amazonense é manauara.
Todo brasileiro é manauara.
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Introdução à Lógica
Dado que a correção de um argumento depende da verdade das sentenças que o
compõem e verdade destas depende do sentido das sentenças em questão, só podemos falar
de argumentos corretos ou incorretos quando houver um argumento cujos termos não
lógicos estão interpretados.
Um argumento-esquema só pode ser avaliado quanto a sua
validade, nunca quanto a sua correção.
Organizemos essas informações em um quadro esquemático.
Validade, correção e verdade: argumento-esquema e argumento interpretado.
Argumento-esquema
(A1)
(A1)*
Todo A é B
Todo B é C
Todo A é C
Todo manauara é....
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